domingo, 17 de outubro de 2010

Consciência Negra




cnzumbi
         A incompreensão de raças é tão velha quanto “andar pra frente”. A cronologia da humilhação de negros e índios no Brasil remonta dos primórdios do descobrimento, quando a herança racista portuguesa, pra não dizer européia, chegou por aqui junto com Cabral, em 1500. No mesmo ano, Portugal iniciou o comércio de escravos negros para a América. O navegador português Bartolomeu Dias, célebre por ter sido o primeiro europeu a navegar além do sul da África, naufragou na mesma data, morrendo em frente ao Cabo da Boa Esperança. Ninguém sabe ao certo, mas é possível que sua carga era de negros escravos sendo levados aos mercados internacionais. A consciência branca naquela época era ganhar dinheiro com a inconsciência negra.   


   Em 1680, Zumbi comanda tudo e todos em Palmares, e enfrenta as tropas portuguesas de forma incessante. Mas a luta é desigual, mortal, selvagem e em 1694 ele recebe uma pesada artilharia, recebe as tropas de Domingos Jorge Velho e recebe também um ataque final, no principal mocambo de Palmares. Ferido, foge. Localizado em 20 de novembro de 1695, é degolado. Vira mito, vira lenda, vira único. Na mesma época, na Europa, o filósofo, cientista e matemático Leibniz publica “Novo Sistema da Natureza”. Em 2003, o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi, passa a ser oficialmente o Dia Nacional da Consciência Negra. Mais de cinco séculos se passaram, sendo que nesse período milhões de negros escravos foram dizimados pela humanidade branca. Ainda precisamos de “um dia” para refletir sobre a consciência negra porque mesmo depois de séculos de humilhação a consciência branca ainda não se libertou das correntes que arrastam seus pés pelos porões da ignorância.

Fragmento de texto de  Kelly de Souza , jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura, adaptado para sala de aula por Adriana Cristina Trajano Marinho, Especialista em Língua Portuguesa-UEPB e professora do Ensino Fundamental e Médio- Paraíba.
Texto 2:


O texto a seguir foi extraído da obra A cor da ternura (1986), da escritora Geni Guimarães, cuja personagem principal é Geni.

Primeiras lembranças

     Minha mãe sentava-se numa cadeira, tirava o avental e eu ia. Colocava-me entre suas pernas, enfiava as mãos no decote do seu vestido, arrancava dele os seios e mamava em pé. Ela aproveitava o tempo, catando piolhos da minha cabeça ou trançando-me os cabelos. Conversávamos, às vezes:
— Mãe, a senhora gosta de mim?
— Ué, claro que gosto, filha.
—- Que tamanho? — perguntava eu.
Ela então soltava minha cabeça, estendia os braços e respondia sorrindo:
— Assim.
Eu voltava ao peito, fechava os olhos e mamava feliz. Era o tanto certo do amor que precisava, porque eu nunca podia imaginar um amor além da extensão de seus braços.
 (...) Uma vez foi assim:
— Quem fez o fogo e a água?
— Deus, é claro. Quem haveria de ser?
— E se pegar fogo no mundo?
— Ele faz a água virar chuva e apaga o fogo do mundo.
— Mãe, se chover água de Deus, será que sai a minha tinta?
Credo-em-cruz! Tinta de gente não sai. Se saísse, mas se saísse mesmo, sabe o que ia acontecer? — Pegou-me e, fazendo cócegas na barriga, foi dizendo: — Você ficava
branca e eu preta, você ficava branca e eu preta, você branca e eu preta...
Repentinamente paramos o riso e a brincadeira. Pairou entre nós um silêncio esquisito.
Achei que ela estava triste, então falei:
— Mentira, boba. Vou ficar com esta tinta mesmo.
Acha que eu ia deixar você sozinha? Eu não. Nunca, nunquinha mesmo, tá?
Daí ela fingiu umas palmadas na minha bunda, saiu correndo pelo quintal afora.
— Quem chegar por último vira sapo da lagoa.
Corri também, dando largas passadas, tentando pisar no rastro dela.
(...) Ela era linda. Nunca me cansei de olhá-la.
O dia todo arrastava os chinelos pela casa. Ia e vinha.
Eu também ia, eu também vinha.
Quando me pegava no flagra, bebendo seus gestos, esboçava um riso calmo, curto. Meu coração saltava feliz dentro do peito.
Eu baixava a cabeça e fechava os olhos. Revivia o riso dela mil vezes e à noite deitava-me mais cedo para pensar no doce cheiro de terra e mãe.7
GUIMARÃES, Geni. A cor da ternura. 10ª ed.São Paulo: FTD,1997.p.13-15

PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL E REFLEXÃO

Você hoje, teve contato com a leitura de dois gêneros diferentes, o 1º  texto é um fragmento do artigo: “ Consciência negra aguarda a consciência branca publicado no blog Cultura, e o outro um conto literário:  “A cor da ternura”, agora após as nossas discussões sobre o dia da consciência negra, faça uma redação em prosa, de caráter expositivo-argumentativo; para tanto, procure levar em conta seus conhecimentos de mundo as leituras feitas e a discussão em sala de aula.

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