sábado, 23 de outubro de 2010

Elementos da Narrativa II


ME RESPONDA, SARGENTO

         Dez anos, sargento, apartada de João. Uma tarde, sem se despedir, montou um cavalinho pampa. Em dez anos de espera nunca deu uma notícia. Com a morte do meu velho, que me deixou o sítio,  quinze dias atrás lã estava eu, bem quieta, cuidando da casa e da criação, ajudada pelo meu afilhado José, esse anjo de oito aninhos. Quem vi entrando sem bater palma nem pedir licença? Maltrapilho, chapéu na mão para fazer vida comigo. Mais de espanto que saudade aceitei, bom ou mau, eu disse é o meu João.
       Nos primeiros dias foi bonzinho. Quem não gosta de uma cabeça de homem no travesseiro? Logo começou a beber, não me valia em nada no sítio. Eu saía bem cedo com o menino a lidar na roça, o bichão ficava dormindo. Bocejando de chinelo e desfrutando as regalias. Não quer castigar o corpinho, um punhado de milho não joga para as galinhas. Só então, sargento, burra de mim descobri o mistério. Ele voltou por amor da herança. Na primeira semana vendeu o leitão mais gordo do chiqueiro, não me deu satisfação. O sargento viu algum dinheiro? Nem eu.
       Ontem chegou bêbado e de óculo escuro. Espantou o menino para o terreiro e, fechados no quarto, brandou que eu tinha um amante, o meu afilhado bem que era filho. Antes de contar até três, eu dissesse o nome do pai. Mais que, de joelho e mão posta, negasse o outro homem, por mim o testemunho dos vizinhos, ele me cobriu de praga, murro, pontapé. Pegou da espingarda, me bateu com a coronha na cabeça. Obrigou a rezar na hora da morte e pedir louvado. Que eu abrisse aboca,
Enfiou o cano, fez que apertava o gatilho. Não satisfeito, sacou da garrucha, apagou o lampião a bala. Dois tiros na minha direção, só não acertou porque me desviei. Uma bala se enterrou na porta, a outra furou a cortina, em três pedaços a cabeça de São Jorge.
        Cansado de reinar, deitou-se vestido de bota. Que a escrava servisse a janta na cama. Provou uma garfada e atirou o prato, manchando de feijão toda a parede: quero outra, esta não prestou. Deus me acudiu, ao voltar com a bandeja ele roncava, espumando pelo dente de ouro. Agarrei meu filho, chorando e rezando corri a noite inteira, ficasse lá no sítio era dona morta. E agora, sargento, que vai ser da minha vida? Que é que eu faço?
Dalto Trevisan, Vozes do retrato. São Paulo: Ática, 1991. p.47


01.Em narrativas ficcionais, o narrador pode emitir comentários ou deixar transparecer sua opinião ou sua impressão sobre os fatos. No conto 
a) Qual é o foco narrativo do conto? Justifique com fragmentos do texto.
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b)Transcreva exemplos de trechos que revelam uma opinião ou impressão do narrador?
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02.Em contos a caracterização dos personagens limita-se ao que é essencial para a compreensão dos acontecimentos, tendo em vista a extensão prevista para esse gênero. Como o personagem é caracterizado?

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03. Por ser uma narrativa curta, o conto desenvolve-se em geral, num ambiente restrito, ou seja, o espaço onde acontece a história. No conto lido
a)Onde se passa a história?
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b) Para justificar o espaço o narrador faz algumas caracterizações. O que é possível afirmar sobre esse espaço?
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04. A sequência de fatos ocorridos em um espaço de tempo, delimitada por um determinado ambiente, é chamada de enredo. Nos contos, as partes do enredo estabelecem entre si relações de causa e efeito. Essas relações são fundamentais para o encadeamento de fatos e o desenvolvimento da história. No conto em estudo desenvolva um resumo seguindo a estrutura abaixo:

a)       A situação inicial-de equilíbrio:
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b)      Conflito ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
c)       Clímax
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05.A marcação do tempo dos acontecimentos também é importante para a construção do conto, para que o leitor compreenda o desenvolvimento da história com facilidade. Essa  passagem  no texto é marcada com precisão. Identifique expressões que marcam essa progressão e classifique qual o tipo de tempo usado na narrativa 
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